terça-feira, 29 de agosto de 2017

Apesar da hecatombe e do marasmo, é preciso lutar contra o golpe





O brilho da luz que se aproximava era cada vez mais intenso, tudo levava a crer que iríamos sair do túnel, um eterno tunel de uma eterna viagem na escuridão. A aparente tranquilidade que havia dentro de cada um dos vagões do trem começava a ser quebrada com as trepidações e solavancos que a cada momento tornavam-se intensos; a composição não suportou; vindo a se descarrilhar e em seguida tomba descendo ladeira abaixo, até se lançar no espaço vazio numa queda que parece não ter fim. Os ocupantes vão aos poucos se recobrando do choque e logo percebem que luz vinha agora sobre suas cabeças e gradativamente ia se afastando; estavam em queda livre a espera do fundo do poço.

Nessas horas de apreensão e medo um filme curtíssimo e rápido projeta nas mentes uma longa vida, mas aqui nesse trem são as imagens de um país e da sua República.

Uma crise política e econômica do Império foi aparentemente solucionada com uma República. Longe de se rejeitar essa forma de governo, a sua introdução na vida do país teve a mesma prática de sempre, a não participação do público,mas inaugurou, como forma de solucionar todos os males, a instituição Golpe, forte até hoje. E assim as decisões saíram dos palácios e foram parar nos gabinetes.


A República torna-se uma novidade naquele momento para a elite que logo é cercada de pensadores e intelecutais para o seu diletantismo, produzindo ideias e mais ideias… . Dessa forma, na República que já nasceu velha criou-se uma “sui generis” forma de alternância de poder, restrito a paulistas e mineiros, na política do Café com Leite. (Povo onde você estava? Os livros escolares não me contaram)

Getúlio toma o poder, começa a modernização do Estado nacional; e mais tarde retorna r como Presidente eleito, numa decisão popular; a elite sai para combater sem tréguas o seu governo. Vargas tenta retomar seus projetos mas não resiste ao forte ataque dessa elite e acaba se suicidando.

O restante da década de 50 é formada de instabilidades, que mesmo no período JK, com seus feitos marcantes, se manifestavam sempre; uma Jacareacanga aqui, uma Aragarças ali e era assim que a coisa ia.

Depois do entra e sai de Janio, Jango o vice-presidente eleito pelo PTB, partido popular na época, sofre todas as dificuldades para conseguir tomar posse, inventaram (golpe) até um parlamentarismo (a farsa), porém o povo queira mesmo o presidencialismo. Apesar de tudo isso, o destino de Jango já estava selado e ele acaba caindo por um novo golpe, dessa vez pelos militares que trouxeram uma longa e tenebrosa ditadura; isso depois de quase uma década e meia de uma brisa democrática que para a elite havia sido um tempo infinito de ver a participação popular na vida do país.

Mesmo assim o Brasil de alguma forma sobreviveu ao trauma dessa ditadura e desse modo era necessário a reconstrução da cidadania e da vida política do país. Todavia, enquanto o espaço democrático iniciava a sua retomada, a chamada elite saía apenas do campo visual mas não de cena. A Lei da Anistia é um bom exemplo dessa ação ao incluir nessa lei os torturadores, que foram premiados pela sua violência irracional.
Durante a campanha da Diretas-Já multidões nas ruas do país em apoio a emenda do deputado Dante de Oliveira a favor das eleições diretas para presidente. A emenda é rejeitada pela Câmara; e sem deixar a peteca dos manifestantes cair, a elite lança Tancredo, da célebre família Neves, para presidente Indireto que sobe nos mesmos palanques das Diretas se dirigindo para as pessoas que não tinham como votar nele. Como a política é a arte de qualquer coisa, até o Dante naquela altura já dizia que a sua emenda se tornara inoportuna...

Com a morte de Tancredo, Sarney o vice da chapa toma posse. Com a marca publicitária de Nova República , lança-se mais uma campanha, a da Constituição. Para redigí-la era necessária a convocação de uma Assembleia Constituinte, e que sempre se ressaltava que ela deveria ser Livre e Soberana. Significava que qualquer um poderia se candidatar a ser um Constituinte, um ótimo espaço para a manifestação de forma direta dos movimentos sociais e políticos. Mas a elite para evitar toda essa participação popular criou o combo do Deputado Constituinte, que legislava e discutia na Constituinte. O poder econômico desfilava sua grande influência.

Nesse apanhado até aqui, pode-se ver que todas as ações para o desenvolvimento do Estado Democrático sofreram grande limitação por parte da elite que estabeleceu e delimitou o tamanho da área das discussões, área essas que pareciam imensas para uma sociedade saída de uma ditadura.

Nessa nova fase democrática a eleição para a Presidente da República enfim se realiza, mas que logo se torna amarga. Collor se afasta ou é afastado, não importa, a questão é que tal fato expõe o Estado a uma fragilidade pois ali não foi deposto apenas o chefe do Governo mas também o de Estado.

Essa característica do Presidencialismo foi, nos últimos tempos, sendo minada com a sua banalização no recente golpe que destituiu a Presidenta Dilma. A divulgação da conversa telefônica entre Dilma e Lula foi outro momento deplorável onde mais uma vez se achicalhava não apenas a Presidenta mas também a figura do Estado.

Dessa forma, a cada golpe sofrido o Estado não consegue se fortalecer principalmente devido às interrupções abruptadas que impedem o desenvolvimento e solidificação institucional. Como qualquer sistema, a construção de um Estado é um processo longo, de constante aprimoramento onde se agrega valores para o seu fortalecimento.

É dentro desse contexto que é necessário que se derrube o golpe que destituiu a Presidenta Dilma, para que todo o desenvolvimento não só das políticas que estavam sendo executadas como também do próprio Estado Democrático, mesmo com os obstáculos constantes.

As movimentações para a derrubada do golpe tem sido dispersas, isso porque cada grupo quer ter o seu próprio nome, quase uma grife, com personalidades agregadas ou apoiadoras, no melhor estilo publicitário.

Os burocratas juntam os farelos da Constituição deixada pelos golpistas e a leem debaixo de lamparinas os artigos , deslizando ao mesmo tempo o dedo indicador sobre as palavras impressas das páginas precárias a fim de tomar uma decisão qualquer; enquanto que os golpistas passam por cima disso tudo, começando por muitos juízes. A exceção é a regra.

No país da "página virada", de olhar sempre para frente, o passado é retrocesso, é o velho; mas que dependendo da situação cobra-se a memória de muitos, principalmente do povo, dos trabalhadores. Promoveram um pífio diretas-já, enquanto outros logo após o golpe já miravam as eleições 2018 com programas e projetos. Mais uma vez evita-se o conflito de qualquer natureza, Jogamos a última pá de cal sobre os 54 milhões de votos dados a Dilma na última eleição presidencial, votos esses que anteriormente eram celebrados como referência da sua legitimidade no cargo.

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O trem continua em queda livre, os golpistas já pularam fora há muito tempo mas deixaram pesados lastros para que a queda seja mais rápida. Muitos dos que ficaram, se desesperam não sabem o que fazer, um pequeno grupo tenta encontrar uma solução nem que tenha que voltar para o mesmo túnel a pé. Há também uma turma significativa que perdeu a noção do que acontece, não conseguem perceber que estão caindo pensam que estão levitando.





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