terça-feira, 19 de março de 2019

Guerra da mídia com a milícia pode ser a antessala do Brasil distópico, por Gabriel Rocha Gaspar

Talvez a mídia não esteja levando em conta que o império está com as milícias.

JORNALISTA LIVRES

A mídia liberal declarou guerra ao bolsonarismo com a cobertura da prisão dos assassinos da Marielle. E é uma guerra que a mídia dificilmente tem condições de ganhar.

Essa cobertura pode decretar o fim da mídia como conhecemos e pavimentar o caminho de um estado policialesco fascista de verdade. Uma guerra aberta Mídia x Milícias será feia de ver. E talvez a mídia não esteja levando em conta que o império está com as milícias. Não existe mais império liberal. Se a Globo, por exemplo, conta com uma aura de liberalismo vindo ao resgate, vai dar ruim.

(...) Este panorama de reorganização do capitalismo em sua fase distópica deixa poucas esperanças para postulados liberais como a pluralidade midiática. Aliás, as velhas instituições liberais não são sequer tratadas como algo digno de conservação pela face publicitária da distopia. Donald Trump, por exemplo, chama o conjunto da imprensa de “fábrica de fake news”; Bolsonaro ganhou a eleição com o mesmo discurso.

Por isso, nesta guerra com a milícia, a balança não é tão favorável aos conglomerados midiáticos quanto parece ser. Até porque, vale lembrar que esta briga parece ter sido instigada pelo lado miliciano: o fato do Jair Bolsonaro ter ameaçado jornalista na véspera da prisão dos suspeitos (em um tuíte que, por sinal, tem a cara do mentor do neofascismo, Steve Bannon) pode bem ter sido uma isca, que a imprensa mordeu. Em 140 caracteres, Bolsonaro atiçou os ânimos para a mídia bater com força total e criar um cenário de animosidade que bem pode aprofundar o ódio de que se alimenta o fascismo.(...) VER+



Gabriel Rocha Gaspar é jornalista e mestre em literatura pela Sorbonne Nouvelle