quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Relembre o Xadrez da política, do crime e da contravenção




Jornal GGN

Por Luis Nassif

Original publicado em 10 de janeiro de 2017 e explica a hipótese de Temer estar preparando a pax com o PCC como ponto central de sua estratégia

Os massacres em presídios são apenas o desfecho de um amplo processo nacional de convivência com o crime, de aceitação social, de parceria política e de negócios entre o país formal e a criminalidade.
O escravagismo e o bicho foram as primeiras organizações criminosas. Da estrutura do bicho nasceu o narcotráfico. Com seu conhecimento da arte de corromper autoridades públicas, o bicho saltou das delegacias municipais para as Secretarias de Segurança estaduais, e de lá para toda a máquina pública, para todos os poros da administração pública, entrando nas licitações municipais, estaduais, controlando o lixo, os transportes urbanos, da mesma maneira que a máfia na Itália, conforme revelou a CPMI de Carlinhos Cachoeira.
No mundo oficial, na base do Judiciário, há a generalização da prisão provisória de preso pobre. Para os tubarões, há a sucessão de recursos, a anulação de inquéritos por ninharias. Cada aumento das penalidades pega apenas os de baixo. Cada flexibilização nas penas, beneficia apenas os de cima.
Historicamente, política e crime – perdão, contravenção – sempre caminharam de mãos dadas. Na época da Proclamação da República, por exemplo, o jogo do bicho já dominava a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (https://goo.gl/a3YqrK), através do Barão de Drummond.
Nenhum partido saiu imune dessas alianças, do PDT de Brizola ao PMDB de Quércia e Michel Temer, ao PT (clique aqui). Desde o momento em que o jogo internacional entrou na Caixa Econômica Federal, no governo Itamar Franco – vendendo sistemas para as loterias -, uma sucessão de escândalos abalou vários governos e abriu a primeira brecha no governo Lula com o caso Valdomiro – do qual se valeu a ala do Ministério Público Federal ligada a José Serra.
Vamos a um pequeno histórico das relações com a contravenção de dois personagens-símbolos do Brasil atual: o presidente Michel Temer e o Ministro da Justiça Alexandre de Morais.]

Tacla Durán, novamente, chama a atenção para sua situação com Lava Jato


Jornal GGN


O advogado Rodrigo Tacla Durán, em nota pública, voltou a abordar temas que são mal interpretados pela grande mídia e inobservados pela Força-Tarefa da Operação Lava Jato. Fala da situação fiscal de sua empresa, considerada como 'empresa regular' pela Receita, após vasculharem todas as transações ali ocorridas, devidamente declaradas e com impostos recolhidos. Uma investigação que durou anos, com inúmeras prorrogações e a pedido da Força-Tarefa da Lava Jato.
 
Vivendo em Madri, e sendo espanhol, Tacla relembra a todos que tem endereço fixo e conhecido pelas autoridades, tanto espanholas quanto brasileiras, inclusive o juiz de piso Sergio Moro. O advogado foi investigado pela Receita Federal da Espanha, que concluiu não haver irregularidade ou delito o envolvendo, o que levou à negativa de extradição por parte do governo italiano.
 
O advogado colabora com a Justiça, tanto da Espanha quanto de outros países, e não sofreu condenação criminal. Lembra o advogado que o procurador Douglas Fischer, da Secretaria de Cooperação Internacional do Ministério Público Federal, recomendou o envio à Espanha de quaisquer provas contra ele em poder de Moro e dos procuradores de Curitibam conforme determina a legislação em acordos e tratados internacionais. Moro e a Lava Jato não informaram a Justiça da Espanha em nada, o que está em desacordo com a lei.
 
Por fim, Tacla Durán lembra, a quem de direito, que parlamentares apresentaram denúncia junto à Procuradoria Geral da República, requerendo investigações sobre irregularidades ocorridas durante as negociações de seu acordo de colaboração com a Força Tarefa do Paraná, em março de 2016. Esse fato impede que, tanto os procuradores do Paraná quanto o juiz de piso Sergio Moro, conduzam processos e investigações contra ele, 'uma vez que todos têm interesse direto no desfecho de quaisquer causas envolvendo' seu nome.
 
Leia a nota a seguir.
 
Nota de esclarecimento
 
1.      No dia dia 25 de abril de 2017, após dez pedidos de prorrogação de uma investigação iniciada em 14 de julho de 2015, a Receita Federal encerrou o procedimento de fiscalização contra meu escritório de advocacia sem lavrar auto de infração. Ou seja: toda minha movimentação financeira foi corretamente declarada e os respectivos impostos recolhidos.
2.      Conforme certidão emitida pela Receita Federal no dia 20 de fevereiro de 2018, anteontem, o escritório Tacla Duran Sociedade de Advogados tem situação fiscal regular.
3.      Todos os trabalhos prestados para o Grupo Triunfo foram indevidamente apreendidos em novembro de 2016, durante busca e apreensão ilegal autorizada pelo juiz Sérgio Moro, desrespeitando o sigilo profissional e outras prerrogativas, conforme despacho da presidência da OAB-SP.
4.      Sou espanhol, vivo em Madri com minha família, meu endereço é conhecido pelas autoridades espanholas e brasileiras. O juiz Sergio Moro tem meu endereço. A Justiça espanhola negou minha extradição e, no dia 19 de dezembro de 2017, a Receita Federal da Espanha encerrou fiscalização contra mim concluindo que eu não cometi qualquer irregularidade ou delito.
5.      Nunca sofri qualquer condenação criminal e tenho colaborado com a Justiça Espanhola e de diversos países. Embora o procurador Douglas Fischer, da Secretaria de Cooperação Internacional do Ministério Público Federal, tenha recomendado o envio para a Espanha de supostas provas contra mim em poder do juiz Sérgio Moro e dos procuradores de Curitiba, conforme determinam acordos e tratados internacionais, até hoje isso não foi feito ao arrepio da lei.
6.      Há uma denúncia apresentada por parlamentares junto à Procuradoria Geral da República, requerendo investigação sobre irregularidades  ocorridas durante negociações do meu acordo de colaboração com a Força Tarefa do Paraná em março de 2016, o que torna impedidos tanto os procuradores da Lava Jato, quanto  o  juiz Sergio Moro,  de conduzirem processos e investigações contra mim, uma vez que todos têm interesse direto no desfecho de quaisquer causas envolvendo meu nome.
 
Madri, 22 de fevereiro de 2018.
 
Rodrigo Tacla Duran


Febre amarela: entre fake news e pós-verdades



ICICT

por Graça Portela

No último dia 18 de fevereiro, o pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces)/Icict/Fiocruz e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS)/Icict, Igor Sacramento, foi ouvido pelo ‘The Washington Post’ em uma matéria sobre a febre amarela no Brasil (Brazil battles yellow fever – and a ‘dangerous’ anti-vaccination campaing). Nela, o pesquisador fala sobre os boatos contra a vacina da febre amarela no país.
Em um momento tão crucial para a saúde da população, diversas notícias falsas dificultam a adesão da população à vacinação contra a febre amarela. O site “Boatos” listou as sete mentiras sobre a febre amarela “que sempre enganam os menos informados”, tais como “Febre amarela é uma farsa criada para vender vacinas” ou “Médico de Sorocaba diz que vacina paralisa o fígado” ou “Própolis espanta o mosquito da febre amarela”, são alguns exemplos que circulam nas mídias sociais, em especial noWhatsApp (aplicativo de celular), causando muita confusão e fazendo com que algumas pessoas fiquem em dúvida se devem ou não se vacinar.
No ínicio de fevereiro (05/02/2018), o site The Intercept veiculou a matéria “Morte após acina contra febre amarela intensifica fake news e teorias da conspiração”, na qual aborda a questão das notícias falsas e divulga a seguinte lembrete da Fiocruz: “Antes de compartilhar uma informação que possa causar pânico desnecessário e confundir, certifique-se que vem de uma fonte oficial. Saúde Pública é coisa séria”.
No meio de tanta incerteza, o site do Icict conversou com Sacramento sobre o uso das fake news e a pós-verdade na saúde e seus impactos na desinformação da população. Ele afirma que “as fake news não têm como ser combatidas ou eliminadas. Elas fazem parte da dinâmica social contemporânea”, mas defende uma mudança na estratégia de comunicação: “do ponto de vista da comunicação, uma disposição grande para o diálogo, para a empatia, para a compreensão, mas também uma processo de formação que permita que profissionais de saúde conheçam a especialidade do imperativo comunicacional de nosso tempo.”

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

MST e MCP produzem safra recorde de milho crioulo no sudeste do Goiás


Página do MST


A parceria é desdobramento do potencial produtivo agroecológico no Goiás, que gerou uma produção de 150 toneladas de sementes crioulas


Por Webert da Cruz, da Página do MST

No sudeste goiano, o Pré-Assentamento Ana Ferreira, do MST, celebram uma safra memorável de sementes. Em parceria com o Movimento Camponês Popular (MCP), foi possível na safra 2016 e 2017 uma produção recorde.

Só da variedade de milho crioulo Sol da Manhã, o MST produziu 30 toneladas. Já comunidades camponesas organizadas no MCP geraram 120 toneladas de sementes. Destas, 20 toneladas são de sete variedades de feijão, duas toneladas de arroz e 98 toneladas de seis variedades de milho, todos crioulos.

O pré-assentamento Ana Ferreira é um território de resistência localizado no município de Ipameri, região dominada pelo agronegócio do complexo soja-milho e, mais recentemente, pela expansão da atividade mineradora.

Historicamente ocupada pelo campesinato, é por esses municípios que grande parte da exploração mineral e agrícola dos sertões do cerrado escoaram para o litoral, devido a sua proximidade com o Triangulo Mineiro e São Paulo.

A partir da década de 1970, entretanto, milhares de famílias foram expulsas pela chegada de latifundiários na região. A maioria das famílias viram sua produção ser destruída pela competição e contaminação das sementes híbridas e introdução de culturas como a soja e o sorgo.


terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Carnaval 2018 - Samba enredo do G.R.E.S Paraíso do Tuiutí


Meu Deus, Meu Deus! Está extinta a escravidão?






Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente

Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor...

E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Xadrez da grande manipulação da Lava Jato, por Luis Nassif


Jornal GGN


Para não se perder nas siglas, um pequeno glossário:
DOE – Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, que administrava o caixa 2 e as propinas do grupo.
Drousys – sistema criptografado de troca de mensagens.
MyWebDay – sistema criptografado que fazia a contabilidade do DOE.

Peça 1 - O livro de Tacla Duran

No dia 19/09/2017, no artigo “Xadrez sobre a falsificação dos documentos na Lava Jato”, o Jornal GGN trazia à tona as primeiras revelações do livro do advogado Rodrigo Tacla Duran sobre a Lava Jato. Era uma prova colocada por algumas horas em um site.
Prestador de serviços da Odebrecht, profundo conhecedor dos sistemas utilizados pela empresa– o Drousys e o MyWebDay, o livro trazia duas denúncias de impacto.
A primeira, é que parte relevante dos extratos do Meinl Bank foram falsificados.
Havia seis evidências definitivas sobre a falsificação.

Evidência 1 – extrato da Innovation com somas erradas.
Evidência 2 – extratos com erros são diferentes de outros extratos do mesmo banco apresentados em outras delações.
Evidência 3 – os extratos originais do banco apresentam números negativos com sinal -, ao contrário do extrato montado, em que eles aparecem em vermelho.
Evidência 4 – a formatação das datas de lançamento é totalmente diferente de outros documentos do banco, que seguem o padrão americano: Mês/Dia/Ano.
Evidência 5 – a formatação nas datas de lançamento é idêntica ao da planilha PAULISTINHA, preparada por Maria Lúcia Tavares, a responsável pelos lançamentos no Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Evidência 6 – nos anexos da delação de Leandra A. Azevedo consta ordem de pagamento, com data de 28 de setembro de 2012, de US$ 1.000.000,00 da conta da Innovation para a Waterford Management Group Inc. Mas no extrato bancário supostamente montado, a transferência consta como saída de 27 de setembro de 2012, ou seja, antes da ordem de pagamento.

Uma enorme nuvem de suspeição recobre a Lava Jato


JEFERSON MIOLA






É bombástica a denúncia de Marcelo Odebrecht na FSP de 4/2/2018. Ele declarou que “seu cunhado e vice-presidente jurídico do Grupo, Maurício Ferro, ajudou a acabar com o departamento de propinas da empresa”.
A revelação do Marcelo adiciona ingredientes explosivos à nebulosa informação prestada com exclusividade pelo procurador Carlos Fernando dos Santos Lima ao jornal O Globo de 29/1/2018 – “Chaves para abrir segredos da Odebrecht estão perdidas”.
Além de assinalar que “O desmantelamento do departamento de propina pode, em tese, ser interpretado como um ato de obstrução de Justiça”, a reportagem da FSP traz revelações de altíssima relevância, que merecem ser apuradas com o maior rigor e com a mais absoluta transparência.
As circunstâncias que envolvem a destruição das senhas de acesso ao sistema my web day, assim como a estranha afluência do Departamento de Justiça dos Estados Unidos num caso criminal do Brasil, são citadas na reportagem:
– “Na operação para acabar com o setor, algumas chaves de acesso aos arquivos secretos da Odebrecht foram apagadas, segundo documento doDepartamento de Justiça dos EUA, onde a Odebrecht e a Braskem também fizeram acordo para se livrar de processos naquele país”;
– “Segundo o relato que está no documento americano, dois executivos que trabalhavam no departamento de propina viajaram para os EUA com o objetivo de dar cabo do sistema eletrônico que a empresa usava para manter os pagamentos ilícitos em sigilo
– “Em janeiro de 2016, ainda segundo o acordo americano, Luiz Eduardo da Rocha Soares e Fernando Migliaccio destruíram as chaves eletrônicas que permitiam o acesso ao sistema my web day”;
– “Essas chaves eletrônicas, que abriam o sistema criptografado, jamais foram recuperadas, segundo investigadores da Operação Lava Jato”.

Movimentos populares do campo definem agenda unitária de lutas pela democracia

BRASIL DE FATO

Mauro Ramos


Objetivo das ações é defender democracia, soberania nacional e direitos

 

 Entidades que fazem parte da Articulação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, estiveram reunidos neste fim de semana na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), espaço formativo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e definiram uma série de ações, mobilizações e encontros com o objetivo de defender a democracia e enfrentar os retrocessos impostos pelo governo golpista de Michel Temer. 

Após um início de ano com mobilizações em todo o país e uma série de ações em Porto Alegre, em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato, as mulheres dos movimentos populares já se preparam para o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, em 8 de março.
As ações das mulheres organizadas terão início logo em fevereiro, como conta Iridiane Seibert, da coordenação nacional do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC): "Nós pretendemos antecipar o que chamamos de Jornada de Lutas do 8 de março, entendendo que temos grandes marcos da luta da classe trabalhadora, como a reforma da Previdência, colocada pelo governo golpista novamente. Completamente contra essa reforma e em defesa da Previdência pública, universal e solidária, vamos articular ações e atividades nacionais, estaduais e municipais para não permitir a aprovação dessa reforma".
A defesa do direito do ex-presidente Lula ser candidato também é outra das pautas que marcarão as mobilizações das mulheres do campo em torno ao 8 de março, que ocorrerão sob o lema "Mulheres contra o capital no campo, em defesa da democracia e dos direitos”.
Em convergência com essas pautas, as Margaridas, como são conhecidas as militantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em homenagem à histórica dirigente sindical paraibana Margarida Alves, se mobilizarão durante todo o mês de março. “Já recebemos várias demandas e a ideia nossa e de outros movimentos é que façamos ações descentralizadas, que possamos colocar o maior número de mulheres nas ações municipais, estaduais e em Brasília”, conta Mazé Morais, Secretária de Mulheres da entidade.
A articulação definiu também participar ativamente da Jornada Nacional de Luta, definida pelas centrais sindicais e pela Frente Brasil Popular para acontecer na semana de 19 a 23 de fevereiro.

Bob Fernandes/Só depois de condenar Lula à prisão o judiciário tem expostos privilégios e vísceras



A hegemonia da concentração sem limites


MEDIA OWNERSHIP MONITOR BRASIL

É impossível ter uma democracia efetiva sem pluralidade e diversidade de vozes em circulação. Infelizmente, os indicadores de riscos à pluralidade na mídia no Brasil apontam para um cenário preocupante: a elevadíssima concentração de audiência e a propriedade cruzada de meios de comunicação são os temas mais destacados dos riscos ao pluralismo midiático no país.
Apesar de toda a diversidade regional existente no país e das dimensões continentais de seu território, os quatro principais grupos de mídia concentram uma audiência nacional exorbitante – que ultrapassa 70% no caso da televisão aberta, meio de comunicação mais consumido no país.
As estratégias e a adaptação de alguns dos grupos brasileiros ao cenário de múltiplos dispositivos de comunicação, com a chamada convergência tecnológica, permitiu que ampliassem sua fatia de mercado. Muitos desses grupos estão reorganizando suas estruturas de produção de informações, reduzindo a quantidade de profissionais contratados e ampliando as responsabilidades de seus jornalistas para atuarem em múltiplos meios.
A propriedade cruzada de meios de comunicação de diferentes tipos como televisão, impresso, rádio e online é uma dimensão central da concentração na mídia brasileira.
Esse cruzamento ocorre, por exemplo, com o Grupo Record, que possui canais importantes na TV aberta (RecordTV e RecordNews), veículos na mídia impressa (jornal Correio do Povo) e na internet (portal R7), além de ser do mesmo controlador da Igreja Universal do Reino de Deus, que possui a Rede Aleluia de rádio e produz o jornal gratuito de maior tiragem no Brasil, a Folha Universal. Outro exemplo seria o grupo regional RBS, que conta com uma afiliada da Globo na TV aberta, o portal de notícias ClicRBS, dois jornais entre os de maior circulação - Zero Hora e Diário Gaúcho - além de outros títulos impressos e duas importantes redes de rádio, a nacional Gaúcha Sat e a regional Atlântida.
Mas quem ganha maior destaque na propriedade cruzada é o grupo de mídia dominante no país: o Grupo Globo.

O domínio da Globo

O Grupo Globo possui veículos ou redes centrais a todos os mercados de mídia. Na TV aberta, comanda a rede Globo, líder disparada de audiência; na TV paga, é proprietária da programadora Globosat, que produz conteúdos que incluem o canal de notícias 24 horas GloboNews e mais de trinta outros – além de parcerias internacionais com importantes estúdios; na Internet, possui o maior portal de notícias brasileiro, Globo.com; na rádio, tem duas de suas redes figurando entre as dez principais do país: Globo AM/FM e CBN; na mídia impressa, possui jornais de grande relevância como O Globo, Extra, Valor Econômico e Expresso da Informação e revistas como a Época, Crescer, Galileu, Marie Claire e tantas outras. Possui, ainda, uma das principais agências de notícias do país, a Agência O Globo (AOG). O Grupo Globo atua, ainda, em mercados como o fonográfico, cinematográfico e editorial.
Com o domínio de tantos mercados, o grupo alcança sozinho uma audiência maior do que as audiências somadas do 2º, 3º, 4º e 5º maiores grupos brasileiros. Esse fato é tão significativo que o grupo Globo anunciou em campanha recente que atinge 100 milhões de brasileiros todos os dias, cerca de metade da população nacional. O que para o grupo é propaganda de seu alcance, para a pluralidade na mídia pode ser visto como um cenário muito preocupante.
Ao comparar nossos indicadores de riscos à pluralidade na mídia com os de outros dez países analisados pelo Media Ownership Monitor, o Brasil apresenta o cenário mais grave de riscos ao pluralismo. A ausência de um marco legal eficiente que combata a monopolização e promova a pluralidade de vozes na comunicação brasileira é uma lacuna que traz graves consequências à circulação de ideias, à diversidade e à democracia.



Recortes da impunidade: com eles, não acontece nada


DCM