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Strategic
Culture
Embora
o Bolsonaro possa ter suscitado recentemente uma cisão entre o
governo e os militares, quaisquer divergências ou diferenças de
opinião ou estratégia entre as duas entidades ainda tenderão para
a ideologia de direita.
Em
julho de 1963, o governo Kennedy decidiu que precisava “fazer algo
pelo Brasil”. O papel dos EUA, na época, era desestabilizar o
país, que foi executado pela Agência Central de Inteligência (CIA)
entre 1961 e 1963, enquanto se analisava as opções de trazer o
Brasil a uma abordagem compatível com os interesses imperialistas
dos EUA. O presidente João Goulart deveria ou expulsar a esquerda do
seu governo, ou então enfrentar um golpe militar, que em 1962 já
era considerado a opção preferível.
Em
31 de março, as Forças Armadas do Brasil, apoiadas pelos EUA, deram
um golpe militar que obrigou Goulart ao exílio no Uruguai. Os EUA
reconheceram imediatamente o governo militar, que abriu caminho para
a tortura generalizada de oponentes. As estatísticas indicam um
número menor de civis desaparecidos no Brasil do que no Chile e na
Argentina, por exemplo. No entanto, o uso da tortura era galopante e
o principal método usado para reprimir qualquer resistência à
ditadura. Mais de 50.000 brasileiros foram detidos e torturados,
enquanto 10.000 foram forçados ao exílio.
No
governo do atual presidente Jair Bolsonaro, a ditadura militar abalou
de forma brutal a memória do país. Enquanto em 2011 o Congresso
brasileiro votou a favor de um projeto de lei para a criação de uma
comissão da verdade como primeiro passo rumo à justiça e à
construção da memória coletiva do país, Bolsonaro tentou emular
táticas de ditadura dentro de um quadro democrático por meio de
suas políticas, que se concretizam nos ataques às comunidades
indígenas, a educação, além de dar espaço para o recrudescimento
da direita no país.